O meu vizinho do lado 
Se matou de solidão 
Ligou o gás, o coitado 
Último gás do bujão 
Porque ninguém o queria 
Ninguém lhe dava atenção 
Porque ninguém mais lhe abria 
As portas do coração 
Levou com ele seu louro 
E um gato de estimação 
Há tanta gente sozinha 
Que a gente mal adivinha 
Gente sem vez para amar 
Gente sem mão para dar 
Gente que basta um olhar 
Quase nada 
Gente com os olhos no chão 
Sempre pedindo perdão 
Gente que a gente não vê 
Porque é quase nada.
— Vinícius de Moraes.