“E te contar de todo amor que neguei por medo do futuro, dos parentes, dos amigos, e de toda a angústia que engoli porque minha boca era pequena demais pra gritar coisas muito grandes. Te dizer sobre os dias inúteis e parados em que você era o completo pensamento, sobre sua nuca distante, sua barriga, seus braços, sobre minha pele procurando a sua pele, porque essas coisas são tão incontroláveis que nem espaço ou tempo alteram. Te contar do medo que eu sentia de me afundar num mar de lágrimas que se formaria, outro dia, mais um dia, ao redor da minha cama, caso eu não tivesse tido aquele sonho, em que você vinha num dia de domingo com várias sacolas nas mãos, com vários livros dentro das sacolas, com várias histórias dentro dos livros, com qualquer desculpa muito ridícula pra eu ficar nervoso ao invés de rir. Te dizer do sabor, do gosto, que eu senti muitas vezes, que eu dormi pra tentar eternizar na boca que era completamente muda. Do sabor de uma noite que havia sido muito boa, tanta coisa pra guardar, enquanto o dia tinha vindo muito rápido e não havíamos tido sequer tempo de dizer: fique bem, por favor, fique bem. Sou meio fraco, te dizer desses segredos que são mais de liquidificador que os da música do caju. Fraco feito uma nuvem, uma coisa que vai reta, uma formiga ínfima, uma criança, uma coisa bonita, um dia, um riso, uma nota muito alta, o show dum cantor que se gosta, fraco no sentindo mais exato da palavra fraqueza: fraco em ser forte com coragem.­­ 
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